segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Mais poemas

O seu presente

Tome pela mão esse presente
que pertence aos seus olhos.
Ainda não é o momento de mudar seus valores.
É tudo tão complicado
que nem mesmo sei o que estou sentindo.
Medo, talvez, de não conseguir mais acreditar
ou de não sentir esperança no que acredito.

É tão complicado o que sinto,
que nem sei como me sinto agora.
Quem sabe a mágica ainda não tenha começado e
eu pense até que o dinheiro possa comprar
ou pagar para deixar de ser tão condenado.

Talvez, se eu chorasse muito,
desaparecesse o medo e
eu descobrisse o outro lado real da mágica.
Ah, sou tão infiel as minhas decisões
que sempre estou me contrariando.

Mas não choro mais.
Penso. Repenso e
libero meus sentimentos e
a minha mente fica livre para você.
Passam os dias e
eu ainda espero acreditando.

Por isso, meu amor,
Tome em suas mãos este presente.
Antes que os meus valores se extingam.
Antes que eu me torne fiel.
Antes que eu não esteja mais aqui.

Cristina Victor
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Coração ferido


Deixa ficar essa dor
já que o coração não emudece,
nem desiste de querer amar, coração.

Amores fracassados.
Não conseguidos,
desistidos, desfeitos,
Perdidos, desperdiçados.
Ah, coração, se você falasse.

Fala, coração tolo, fala.
Eles não escutam.
Não enxergam.
Não podem ver você, coração.

Sinto.
O tanto que sinto,
ninguém sente o que sinto.
Falido coração caído.
Ferido com facas e arpões.
Desiste de amar coração.

Deixe-se dormir, repousar.
Pare de sentir tanto amores perdidos.
Pare de amar corações falidos.
E chora, coração, chora.
Cristina Victor
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Manhãs e madrugadas


Escolho as portas que abrirão
as madrugadas tementes.
Cofre de espécies suplicantes.
Gente aflita e carente.

Olho pelas janelas fechadas com trancas
as manhãs com olhar furtivo.
Espelho da alma cativa.

Espero nas madrugadas
as manhãs de satisfação.
Acordo nas manhãs
os sonhos suados da ilusão.

Tudo que esconde a madrugada
descobre-se na manhã.

Um bêbado em sono solto.
O lixo das latas nas ruas.
Mulheres nuas.
Acordos desfeitos.

Mais guarda a madrugada.

Beijos perdidos.
Acalantos desafinados.
Falsos pedidos.
Desejos não saciados.

Para nas manhãs
receber os risos fingidos
de um povo quase extinto
que a noite abriga
num albergue escrito
com ouro na porta
a palavra BAR.
Polido e fiel amigo antigo
das canções passadas.

Cristina Victor

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Acalanto

Vem
Que eu Quero te aconchegar
Nos meus braços vazios
De tanto abraçar
Olha
Que eu quero olhar contigo
Ver com teus olhos sem dor
A chuva chegar
Calma
Que o vento sussurra
Para não perturbar
O amor
Alma
Que reconheço
Pelo cheiro da Poeira
Que te veste
De onde viestes
Já vim
Teu caminho
Já fiz
Mas volto à estrada
Mão na mão
Sonho nos pés
Quem sabe tem fim
Noutro lugar.
Deixa
Eu te despir das cores
Do mundo
No escuro
Na sombra
Somos mais puros
Mais tato
Mais faro
Mais gente.
Amar-te
Como ao Primeiro...
Dar-me
Como virgem...
Enlaçar-te
Qual serpente
Num abraço
Sem pudores fúteis
Nem falsos gozos
Deixa
Os aromas íntimos
Perfumes do sexo
Inebriar-nos.
Amanhã,
Quem sabe...
Mas nesses momentos
Vive-se uma vida inteira.


Myria do Egito

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Enquanto medo


Onde está a face que revela você nos seus anos?
Seus sonhos, desejos e experiências.
O que esconde a sua face?

Se a boca oferece palavras de beleza.
Onde está a face que guarda a boca?
A boca que sopra o amor nos meus ouvidos.

Se você guarda a sua face
no resguardo dos meus medos
Desperta o medo da verdade imaginária na insegurança de seu zelo.
O que esconde a sua face?

Os afagos que nega na maturidade
esconde sua sensibilidade.
Carícias trancadas,
prisioneira numa cela de vaidade
daquele que se esconde.

Acusa minha fragilidade
quando é você o frágil.
Teme minha vulnerabilidade
quando é você vulnerável.
Responde aos meus desejos
combatendo minha relutância em ser passiva.

A ansiedade latente que você vê em mim
sou eu.
O pesar que você sente por minha juventude
é seu medo.

Esconde seu medo em sua face.

Esconde sua face de mim.
Nega seu medo pra mim
Nega meu amor por você.
Nega-se a mim.

Cristina Victor

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Espectro

Ninguém olhou
Ninguém parou
Ninguém viu
Ninguém notou
A sombra lenta
O cheiro de dor
Que se escorreu
Pelo ar.

Viúva da vida
Viúva de si
Espectro sem pouso
Ímpar
Só.

Myria do Egito


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Ainda o seu medo


Todos os pontos têm sua linha de chegada.
E eu ?
Se tenho tua presença oculta,
recuso todo o sentir,
pois não tenho você presente e
acalmo meu querer sem sentido.

O que tenho agora?

Num momento de determinação,
as chamadas levadas por um fio.
Partes de um acervo tecnológico
que o afasta mais ainda de mim.

Assumo meu racional
quando censuram meus atos.
O que tenho se meus amigos se afastam e
derramam sobre mim palavras maliciosas?

Continuo dosando esperanças no tempo
e no espaço em que me encontro,
esperando o momento em que você
não mais me temerá
e enfim vai se revelar para mim.

Quanto mais tenho que esperar?
Por que tanto resistir?

Saiba que
Meu amor é tão grande
que pode vencer seus medos.
Meu coração é imenso
que pode carregar suas mágoas.
Meu corpo é pequeno
que cabe bem em seus braços.
Minha alma é tão pura
que adoraria seus pecados.
Só falta você vir pra mim.

Cristina Victor

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